As dores de mercado e reflexões sobre carreira que transformei em negócio
No princípio, era a palavra. E as primeiríssimas palavras desse blog são justamente de Princípios, esse grande de livro de Ray Dalio. Ainda lembro da primeira vez que ouvi essa frase, num episódio de um podcast sobre autoaperfeiçoamento (Kaizen, do empreendedor espanhol Jaime Rodríguez).
Aquele foi um momento de clareza: dor e reflexão eram abundantes pra mim. Já era hora de progredir. De sair de uma encruzilhada. À beira dos 40 anos, eu tinha tido tempo de sobra para me tornar generalista. Eu entendia que isso era determinante para sobreviver e até crescer no mercado. Que ia abrir portas, assim como minha experiência.
Mas a vida me reservava muitas ironias. Começou com uma proposta para assumir um desafio numa grande agência. Uma missão crítica, em que minha experiência seria decisiva. Na verdade, era um incêndio – que já estava fora de controle antes que eu chegasse. Já não havia tempo hábil. Digamos que o incêndio culminou num desmoronamento (churn, no jargão corporativo). A casa caiu pra mim também: perdi o emprego.
Eu achava que fosse uma mera questão de tempo, mas achar é diferente de entender. Eu achava que ter graduação em comunicação, pós em MKT Digital, MBA em Inteligência Artificial para Negócios e ser trilíngue fosse me ajudar. Foi aí que começaram as ironias – para o bem e para o mal.
Por mais que eu me visse (e me veja) como eterno aprendiz, o que vi foi um padrão nas entrevistas da vida: “Você é senior demais. Você é generalista demais. Você é trilíngue, não posso contratar um cara e logo perder ele pra quem paga em dólar”.
Era uma ironia atrás da outra. Pra começo de conversa, os gringos não queriam me contratar porque a diferença entre nossas realidades é abissal. A verba que gerenciei no Google para players de médio/grande porte no Brasil é menor até do que a verba de muitos negócios locais lá, e isso virou uma barreira de entrada crônica no que seria meu american-brazilian dream (no mercado de tráfego pago, há um entendimento de que o volume da verba gerenciada diz algo sobre a experiência do profissional).
Quase 20 anos atrás, eu não conseguia nem estágio em comunicação porque – adivinhe – eu então não tinha experiência. Acabei pegando experiência e visão (sistêmica) à base de um longo sacrifício. Mas não fazia ideia que usariam tudo o que aprendi… Contra mim. E isso foi de partir o coração.
O mercado é curioso. Exige experiência, mas exclui senioridade. É a mentalidade de escassez que predomina: não veem ativo, apenas risco. Da minha parte, isolado em minha mentalidade de abundância, o que vi foi desperdício. E eu odeio desperdício. Dói só de ver. Doeu tanto que refleti… E progredi.
Não era mais sobre aproveitar oportunidades. Era sobre criar oportunidades. Criei, portanto, uma oportunidade – ou melhor, a oportunidade – pra mim: a Local Ads. Isso que é empreender. Quando falta oportunidade, a gente vai lá e cria. Quando falta emprego, a gente vai lá e empreende, pela própria conta e risco. Ou nas palavras do grande Nizan Guanaes: “empreender é tirar de onde não tem, para pôr onde não cabe” (aliás, Nizan é o Caetano da publicidade brasileira. Ninguém se reinventa como ele).
Mas a dor não passou. Porque ela não era uma só, muito menos só minha. Na verdade, eram dores de mercado. Dores que senti prestando serviço para agências. Dizem que tudo começa na mente, e o primeiro ponto crítico que vi foi justamente o nível de consciência do atendimento, que acaba contaminando o cliente. Pra falar a verdade, o atendimento atrapalha mais do que ajuda. Lidei com dois tipos de atendimento: os que queriam ser educados, evangelizados, e os que não queriam nada. Sempre esperei pelo terceiro tipo: os que queriam SE educar e educar o cliente. Mas fiquei esperando. Nunca trabalhei com um atendimento que tivesse incorporado o eterno aprendizado que guia um estrategista digital de verdade.
De forma que a comunicação com o cliente era um telefone sem fio. Não era inteligente ter que educar o atendimento, que tinha que educar o cliente (mas não educava). O resultado era um processo com muita fricção e pouca clareza. Lembro de situações sucessivas em que virei a chave quando “atravessei” o atendimento e me comuniquei diretamente com o cliente. Na primeira pergunta, já pegava uma visão que não teria numa reunião inteira com o atendimento.
Ficou claro pra mim: se tem alguém que pode (e deve) educar o cliente (e ser educado por ele também) é o estrategista digital (ou gestor de tráfego, growth, como preferir). Tanto que prezo por uma espécie de código de conduta: pra entregar resultado tem que gerar valor primeiro.
Especialmente no contexto de pequenas e médias empresas, onde quase metade dos empreendedores nem sabe dizer em que grau de maturidade digital se encontram (esse dado do Google pesou em minha decisão de nichar).
Parte da minha missão é levar essas pessoas do ponto A ao ponto B. Isso já me deixa contente. É claro que quero e preciso de clientes, mas o mero fato de poder deixar as pessoas mais conscientes do problema delas (e da nossa solução) já me deixa contente. É por isso que crio conteúdo dia sim, dia sim. Quando me vi com quase 40 anos, desempregado, solteiro e morando com a mãe, comecei a me perguntar sobre o que eu tinha construído na vida.
De fato, em retrospecto não juntei dinheiro, não comprei casa nem carro… Mas juntei toneladas de uma riqueza sem preço: o aprendizado. Pra mim, aprendizado é a riqueza mais nobre que há: quanto mais a gente compartilha, mais rico fica. No momento em que escrevo estas linhas, lembro que preciso pagar a dívida que fiz para viabilizar o empreendimento. Ainda assim, já me sinto mais rico que nunca, só de já ter começado a compartilhar o pouco que sei em nossos canais.
Era uma energia que eu precisava canalizar pra me realizar. Não só pelo que sei, mas também pelo tanto que o mercado ainda não aprendeu – e, portanto, não ensina. O mercado não ensina, por exemplo, clientes a serem parceiros, abrindo brecha para desconfiança, microgerenciamento e muita perda de tempo.
Se tempo é dinheiro, muito dinheiro se perde, também, na comunicação enviesada, nebulosa, entre atendimento e cliente. Por sinal, esse foi outro problema que reverti em oportunidade, modelando um negócio enxuto, sem atendimento, sem telefone sem fio: eu mesmo que me comunico com os clientes.
No momento em que me tornei empresário, a dor do empresário se tornou a minha dor. É o meu negócio que me ajuda a entender o negócio dos meus clientes, a falar de igual para igual com eles. E é minha missão fazer com que eles possam falar de igual para igual comigo também. Por um mercado mais justo, transparente e sustentável.
Dizem que não há nada mais poderoso do que uma ideia que chegou no tempo certo. Tudo indica que é mesmo uma boa hora. Mas parte de mim queria ter pensado nisso antes, pra que eu não tivesse sofrido com tudo que passei. Ou até para que mais empreendedores não sofressem, também, com tudo que falei. Pois é. Sua dor é minha dor.
Que, daqui pra frente, a nossa dor seja de crescimento.
Muito obrigado.